quinta-feira, 5 de julho de 2012



"Caminhei horas na praia sozinha. Num dia daqueles que não tem sol. A areia branquinha que dava gosto, quase que me chamando pr'eu parar e construir um castelo com ela. Mas sentei foi na beirinha do mar. Molhei os pés e vezenquando a água vinha e molhava um pouco mais da barra da minha saia. Fiquei lá até escurecer. Sonhando-chorando-pedindo. Não existe oração mais bonita que essa. É uma conversa direta com Deus. Porque tem dia que não dá pra segurar a barra sozinha."


Quantos mares se escondem por detrás desses teus olhos? Qual é o teu segredo? Não sei que laço invisível foi esse em que você me prendeu. O moço é todo mar. É todo onda. E é nessa onda que eu quero me arriscar. Eu não sei qual o mistério que se esconde aí por detrás dessa cortina verde, que me chama, me convida e seduz. Por quantas curvas ainda vou me perder enquanto passeio pelo teu corpo? Por quantos mundos eu viajo enquanto me perco? Nem eu sei e, pra falar a verdade, nem quero mais saber. Aliás, quem disse que eu quero me achar? É que você me desarma, moço - e eu fico toda perdida. É que você me confunde e me faz esquecer do que li naqueles manuais. Você fugiu das regras, inclusive das minhas.

Não resisto aos teus olhos claros por entre o contraste do teu cabelo escuro bagunçado e meio sem corte - e você sabe disso. Aí você ri e põe a mão no queixo imaginando o que eu estou pensando - e eu nem sei em que pensar. Ele não sabe quase nada de Literatura, não gosta da minha banda preferida, ele não tem talento pra ser romântico. Mas eu gosto dele mesmo assim. Eu gosto daquele jeito bruto, gosto da fala mansa, do sorriso meio de canto e da forma tosca como me enlaça e me faz perder o fôlego. Gosto das tuas mãos quentes e leves que sabem bem onde pousar, gosto da barba por fazer quando dança pelo meu corpo. E eu gosto da tua dança, eu gosto do teu ritmo. Eu gosto de você, rapaz – e do seu passo desajeitado.

Eu sei que você esconde um tesouro por detrás desse olhar, eu sei que você esconde segredos que eu ainda vou desvendar. O moço é todo mar. É todo onda. E é por detrás desses teus olhos que eu quero me afogar.



*/Simone Oliveira



"Não aceito papel de má. E boazinha é um apelido quase feio. Fico no meio termoo. A virtude não me atrapalha e o improvável sempre me aceita."

segunda-feira, 2 de julho de 2012



 
Eu soube, desde a primeira vez que te vi, que corria o risco de te querer. Talvez pela adrenalina de tudo aquilo ou só fantasia ou só desejo bobo, ânsia de provar que. Eu quero. Eu posso. Eu consigo. Ladainha, besteira pura. O fato que eu sempre soube que corria o risco de te querer e quis, mas deixei guardado, lá no fundo do fundo do fundinho da memória, pra tentar esquecer. Inventei uma admiração tola, um querer bem de amigo, umas conversas despreocupadas e forcei a me convencer que bastava, que era isso e pronto. Nada mais. Coleguismo e só. Doce engano. A armadura se desfez nas primeiras palavras daquela manhã de feriado comprido, debaixo de chuva e frio. Você montou frases em voz de veludo, ensaiou arranjos perfeitos e foi me desmontando todinha, arruinando a esperança que eu tinha de não sentir nada, nadinha. Um mínimo de sentimento. Mas eu me vi feliz, sabe? Sabia que estava ferrada, que era tarde pra se chegar em casa, tão cedo raiava o dia, que tava lindo de tão feio. Mas não dei bola, eu queria aquilo, constatei. Eu queria MUITO aquilo, aquele momento, aquelas palavras, aquela certeza, aquele sorriso, aquele abraço molhado, aquele conforto. Eu me sentia bem. Como podia ser errado se eu estava feliz? Como podia? Não era, repetia pra mim mesma. Não era.